Serial Killers brasileiros: origem e significado da tragoidia

por UBIRACY DE SOUZA BRAGA*

Na manhã de 7 de abril de 2011, o ex-aluno Wellington Menezes de Oliveira, de 24 anos, invadiu a Escola Municipal Tasso da Silveira e atirou indiscriminadamente contra crianças e adolescentes que se encontravam em salas de aula, matando dez meninas e dois meninos e ferindo outras vinte crianças. As crianças e os adolescentes que fugiram enquanto o assassino recarregava suas armas encontraram o sargento da polícia militar Márcio Alexandre Alves, que fazia fiscalização de trânsito perto da escola. O sargento, ao chegar à escola ao som de tiros, encontrou o criminoso saindo da sala onde baleara fatalmente oito crianças, e efetuou dois disparos de arma longa, um dos quais atingiu o assassino no abdômen. Ao cair, na escada que leva ao andar superior da escola, Wellington disparou contra a própria cabeça, concretizando o suicídio. O evento causou comoção nacional e repercutiu rapidamente em noticiários internacionais.

Descrever e explicar o fascínio e a compulsão que têm os serial killers é ao mesmo tempo perturbador (psicologia) e só aparentemente compreensível sociológica e politicamente  falando. Perturbador porque, de acordo com toda e quaisquer moral da sociedade em que vivemos, deveríamos condenar os crimes cometidos por esses assassinos e evitar qualquer pensamento afetivo acerca de suas ações horrendas, mas compreensível porque analiticamente falando seus “motivos e conteúdos de sentido” (Weber) –nos levam a indagação do que os levam a se comportar de modos tão cruelmente refinados e o que os fazem se tornar assassinos que agem continuamente? O objetivo deste ensaio é fazer a análise comparada, compreendendo, em que medida se dá a relação de rejeição em termos psicossociais nas sociedades em que vivem, de fora para dentro do Brasil, em termos de apropriação desse conjunto de praticas e saberes sociais, particularmente, o que os leva a cometerem tais monstruosidades psicoativas diante de fatos incontestáveis, com o ocorrera agorano subúrbio carioca de Realengo (RJ), outrora dourado pela poesia e voz de Gilberto Gil: “Alô, alô Realengo aquele abraço, alô torcida do Flamengo aquele abraço…”.

Pertence à quinta área de planejamento e dá nome à XXXIII Região Administrativa carioca, a qual compreende os bairros de Deodoro, Jardim Sulacap, Vila Militar, Magalhães Bastos e Campo dos Afonsos, onde se situa a base militar aeronáutica do Rio de Janeiro, ao contrario de Deodoro onde operam a intelligentsia que se prepara para a guerra. Costuma apresentar as temperaturas mais altas da cidade, embora as noites de inverno sejam frequentemente frias devido à proximidade com as serras. Há várias versões para a origem do nome do bairro: uma delas explica que o nome origina-se da denominação da região no período Imperial a qual era “terras realengas de Campo Grande”, do germânico, “realenga” que nomeava tudo que estava longe do poder Real. No entanto, segundo a tradição popular, antropologicamente falando, seu nome é uma abreviatura do nome “Real Engenho” a qual era “Real Engº”, afixada sobre as placas no topo dos bondes desta região e que, com o passar do tempo, teria se tornado popularmente “Realengo”, dai o sentido e o significado voz de Gilberto Gil e outros.

Charlotte Greig nasceu em 1954, em Malta. É uma romancista inglesa, dramaturga, cantora e compositora. Graduou-se com mestrado em História do Intelecto na SussexUniversity e começou a escrever como autônoma e editora para uma variedade de revistas e jornais, incluindo a New Musical Express e o Guardian. Em 1989, escreveu seu primeiro livro e, desde então, já escreveu outros e contribuiu para muitos outros, inclusive Horrible Histories e Twentieth-Century Crime Fiction. Além de ensinar estudos de mídia por vários anos, ela conquistou uma reputação como especialista em música popular escrevendo o campeão de vendas Iconsof Black Music 1999, Brown Partworks e também criando e apresentando Will You Still Love Me Tomorrow, uma série sobre grupos de garotas que foi indicada para um prêmio Sony.

Do ponto de vista histórico e teórico, para o que nos interessa, Charlotte Greig identificou e descreveu em detalhes os 50 serial killers mais psicoativos do mundo, indo de Jack, “o Estripador”, a Ted Bundy. Com a documentação etnográfica de cada um deles, é fácil perceber temas semelhantes surgindo: David Berkowitz ou AnatolyOnoprienko, que “cresceram para ser solitários” e, consequentemente, acabaram se vingando de uma sociedade pela qual se sentiam rejeitados; os assassinos que “matavam por impulso sexual”, como Albert Fish ou John Christie; e os “praticantes ocultistas”, como os Estripadores de Chicago e Richard Ramirez, inspirados por “rituais macabros”, a fim de transformar suas fantasias obscuras em realidades ainda mais sombrias. Não importam quais sejam as histórias de vida que surjam desse grupo de indivíduos distorcidos, infelizes ou solitários, canalhas ou mal-amados posto que Serial Killer – Nas Mentes dos Monstros, é um testamento atraente e preventivo – do potencial do comportamento humano para o verdadeiro terror e a pura maldade. Contudo,

“l`analisi di questo paradigma, largamente operante di fato anche se non teorizzato explicitamente, può force autuare a uscire dalle secche dela contrapposizionetra ´racionalismo` e ´irrazionalismo`” (cf. Ginzburg, 1986: 158). Senão vejamos. Pedro Rodrigues Filho, Eudóxio Donizete Bento, Edson Isidro Guimarães, João Acácio Pereira da Rocha. O que esses homens têm em comum? Todos são assassinos. Todos figuram na lista de serial killers brasileiros. Para ser considerado um serial killer, “o assassino precisa ter matado duas ou mais pessoas com um intervalo de tempo entre os crimes, seguindo o mesmo modus operandi e o mesmo ritual e deixando sua assinatura”. Os serial killers acima mataram mais de dez, seguindo uma espécie de roteiro macabro para abordar e matar suas vítimas, que tinham o mesmo perfil como no caso das crianças brasileiras e a mesma faixa etária. Os “assassinos seriais” geralmente começam a agir entre os 20 e os 30 anos de idade e não têm motivo aparente para matar suas vítimas. Elas são escolhidas ao acaso, e, portanto, constituem-se como um puzzle para as autoridades policiais.

Do ponto de vista igualmente da representação da tragédia, do grego antigo τραγδία, composto de τράγος “bode” e δή “canto”,é uma forma de drama, que se caracteriza pela sua seriedade e dignidade, frequentemente envolvendo um conflito individual ou coletivo entre uma personagem e algum poder de instância maior, como a lei, os deuses, o destino ou a sociedade. Suas origens são obscuras, mas é certamente derivada da rica poética e tradição religiosa da Grécia Antiga. Suas raízes podem ser rastreadas mais especificamente nos ditirambos, os cantos e danças em honra ao deus grego Dionísio, para lembramos de Nietzsche, conhecido entre os romanos como Baco. Dizia-se que estas apresentações etilizadas e extáticas foram criadas pelos sátiros, seres meio bodes que cercavam Dionísio em suas orgias, e as palavras gregas τράγος, tragos, (bode) e δή, odé, (canto) foram combinadas na palavra tragoidia (algo como “canções dos bodes”), da qual a palavra tragédia é derivada.

Segundo Ilana Casoy, escritora e uma das maiores especialistas da área, existem dois tiposde assassinos seriais: “os organizados e os desorganizados”. O primeiro tipo é socialmente competente e geralmente casado. Tem bons empregos por parecer confiável e aparenta saber mais do que na realidade sabe. Para esse tipo, o crime é um jogo: “planejam o crime com cuidado, carregam o material necessário para cumprir suas fantasias, interagem com a vítima e se gratificam com o estupro e a tortura”, diz Ilana, que colabora com a Polícia Civil da cidade de São Paulo na montagem de perfil de serial killers, como afirmou o titular da Delegacia de Homicídios do Rio de Janeiro, Felipe Ettore que tem se concentrado na análise indiciária  (cf. Giznburg, 1986: 158 e ss.) de depoimentos já prestados e do material recolhido pela perícia na casa de Wellington Menezes de Oliveira para “traçar o perfil psicológico” do assassino-suicida.

Do ponto de vista da memória, de outra parte, “eles levam um pertence da vítima como troféu ou lembrança”. O segundo tipo de serial killer, o desorganizado, “age por impulso e perto de onde mora, usando armas e instrumentos encontrados no local da ação”, com o ocorrera com o assassino de Realengo, no Rio de Janeiro.Ilana diz que esse tipo raramente mantém contato com a vítima antes de agir: “agem com fúria, gratificam-se com estupro ou mutilação post-mortem, e são, na maioria, canibais ou necrófilos”. Costumam deixar evidências no local do crime e não param em emprego nenhum. O caso mais famoso de serial killer brasileiro até então era o do “motoboy”Francisco de Assis Pereira, o “Maníaco do Parque”. Mas ele está longe de ser o pior, na falta de melhor expressão,serial killer do país. Alguns mataram mais de 100, outros usaram crueldade inimaginável com um número bem menor de vítimas. Nesta lista estão nove serial killers em ordem cronológica. Se fôssemos listá-los por número de vítimas, a ordem seria bem diferente. Os escolhidos estão aqui pelas características extremamente violentas de seus crimes, cuja crueldade chega a embrulhar o estômago até de policias experientes neste tipo de crime.

O Brasil e o mundo foram surpreendidos pela notícia exibida ao vivo, pelos meios de comunicação de massa do Rio de Janeiro, e de resto no mundo, por um fato absolutamente jamais imaginado pela população da zona oeste: o massacre ocorrido na Escola Municipal Tasso da Silveira no bairro de Realengo. Em pleno horário de atividades normais em uma sala de aula, acontecia um verdadeiro pesadelo para os professores e crianças que ali se encontravam em busca de conhecimentos para justamente oferecerem à sociedade maiores opções de crescimento e desenvolvimento na busca de melhores dias para todos. O fato assombroso foi estupidamente executado por Wellington Menezes de Oliveira, um jovem de 24 anos, que colocou o Brasil na lista dos países das grandes chacinas atribuídas aos psicopatas, e que só se imaginava ser possível em países como os EUA – Estados Unidos da América, como e sabido. Todas as autoridades e especialistas em psicologia forense tentam explicar o que realmente levou o assassino a cometer ato tão deplorável contra crianças indefesas. Foram confirmados os funerais de quatro vítimas: Laryssa Silva Martins, 13, e Mariana Rocha de Souza, 12, serão sepultadas às 11h no cemitério do Murundu, na zona oeste; Géssica Guedes Pereira, 15, no cemitério Ricardo de Albuquerque, também na zona oeste do Rio, às 15h; e Larissa dos Santos Atanázio, 13, no cemitério Jardim da Saudade. Já o atirador, em carta que deixou antes de se matar, pediu para ser enterrado “ao lado da sepultura onde minha mãe dorme. Minha mãe se chama Dicéa Menezes de Oliveira e está sepultada no cemitério Murundu”. Estejamos atentos!

Bibliografia geral consultada

BIBLIA Sacra Latina ex Bíblia Sacra Vulgatae Editionis Sisti V. et Clementis VIII, Samuel Bagsterand Sons Limited, London, [s. d]; RODRIGUES, Nina, As Coletividades Anormais.  Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, 1939; FROMM, Erich. Anatomia da destrutividade humana. RJ: Guanabara, 1987; FOUCAULT, Michel, Eu Pierre Rivière, que matei minha mãe, minha irmã e meu irmão. Rio de Janeiro: Graal, 1983; NEWTON, Michael, A Enciclopédia de Serial Killers. São Paulo: Madras, 2008; CASOY, Ilana, Serial Killer – Louco ou Cruel? São Paulo:Ediouro, 2008; GREIG, Charlotte, Serial Killers – nas mentes dos monstros. 1ª edição. São Paulo: Medras, 2010; MORANA, Hilda C. P.; STONE, Michael H.; ABDALLA-FILHO, Elias,“Transtornos de personalidade, psicopatia e serial killers”. In:Rev. Bras. Psiquiatr. 2006;28 (Supl II), Abril, 2011; BORTOLOTTI, Plínio, “O sequestro da razão”. In: Jornal O Povo Online. Fortaleza, 21 de outubro de 2008; BRAGA, Ubiracy de Souza, “Rebeliões da Cidade”. In: Jornal O Povo. Fortaleza, 27 de maio de 2006 entre outros.


* UBIRACY DE SOUZA BRAGA é Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências (USP). Professor da Coordenação do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE).

20 comentários sobre “Serial Killers brasileiros: origem e significado da tragoidia

  1. Meu caro Ubiracy. Parece um equívoco: o seu texto bem analisa o crime serial killer, mas o massacre de Realengo é do tipo “amok”. O primeiro mata em “serie”, com intervalo de tempo, e escolhe um tipo de vítima,geralmente com requintes de crueldade. Já o ‘amok’ é – como o tempo malaio diz é produzido por reação raivosa difusa, geralmente com muitas vítimas fatais e depois se mata. Publiquei um texto em 2009, na revista Espacoacademico.com.br, e agora, fiz outro, tb publicado. Também o amok não é psicopata, não tem historio de delinquencia e raramente rão psicotivos. Abraço. Raymundo.

  2. Estou aguardando retomadas, leituras do meu comentário. Quero ouvir a opinião de vocês a respeito. Sinceramente, tenho me preocupado muito em como demonstrar realmente o meu interesse pelas pessoas com as quais convivo. A minha intenção não é propor que todos se amem indistintamente. Não é isso. Quero ajuda para refletir em como as nossas ações, os nossos gestos, os nossos olhares etc. podem oferecer pistas do nosso “real” posicionamento. Também não proponho, por exemplo, apontamentos de traços característicos específicos (movimento de mãos e pernas, por exemplo) para toda e qualquer situação. Não é isso. Penso que é necessário pensar em situações e em pessoas específicas. Proponho uma reflexão sobre as possíveis linguagens demonstradas ou construídas por um professor no ambiente da sua sala-de-aula. Quais são os possíveis efeitos na interação com o(s) aluno(s) quando um professor fica a maior parte do tempo atrás da mesa ou na frente da sala, por exemplo? É necessário definir um papel de atuação (professor ou aluno) para se posicionar a respeito.

  3. Caro professor Braga;

    Concordo em parte com suas objeções, no sentido de que, Wellington tenha meditado e planejado antes de cometer os crimes, o coloque como um potencial serial killer, entretanto, as outras características de um serial se encontram ausentes. O FBI define um serial killer como uma pessoa que mata três ou mais vítimas, com períodos de “calmaria” entre os assassinatos. Segundo essa definição Wellington não se encaixaria como serial. O que reforça ainda mais a minha concepção de um massacre, de uma babárea. Contudo, me permita, tem relevância filosófica ou epistemológica.

  4. Olá!
    Desejo que um dia termine toda publicidade sobre fatos como esse.
    Essas coisas devem ser tratadas num nível sigiloso, pois sempre haverá outro(a) maluco(a) inspirando-se, querendo aparecer.
    Essas atitudes não merecem repercusão midiática. Sabemos que “a propaganda é o melhor negócio”. Portanto, chega de propaganda para assassinos, estupradores, ladrões, entre outros.
    Fernando Garbinato

  5. Gloria,

    Chegamos a tal ponto de espetacularização midiática (ou da cultura) que está impossivel ver o “Fantástico”, embora tenha jornalistas importantes e sérios como o Zeca Camargo, a Patricia Poeta, o irmão do Oscar Schimidt (acho que se escreve assim) e tantos outros. E impressionante a difusão que tem o jornalismo da Globo no mhorario nobre com aquela duplinha. Em 1996 quando era Visiting na UFPB a Fátima Bernaenades chegou a noticiar nesse jornal que o “racismo havias acabado nos EUA”. Eu liguei pra emissora protestando com a falta de informação dela. Obvio que me ignoraram…

  6. Concodo inteiramente e partilho das colocações de Francisco Bendl. No dia do ocorrido, viajei em uma van e ouvi todas as “análises simplistas possíveis e imagináveis”, inclusive, a predominante, ou seja, falta de Deus, que para eles significava apenas não pertencer a uma religião cristã. Ninguém esboçava nenhum sentimento de compaixão, de impotência, de indignação com o descaso de nossas autoridades em relaçao às políticas públicas e os destinos de nossos pobres jovens. E quando tentei levantar alguns questionamentos para além do bem x mal, temi!!! Eles e elas estavam julgando que eu estivesse tomado partido do jovem atirador. Como a mídia espetaculariza qualquer fato ou tragédia e como as pessoas se deixam entrar no clima de comoção social, se afastando de qualquer senso de racionalidade …

  7. Prezada Ligia,

    Em termos você tem razão. Pouco antes da redação do artigo pensei em utilizar Gilles Deleuze e Felix Guatarri, no que contém em “El Antiedipo, capitalismo y esquizofrenia” (Barcelona, 1973) e sobretudo refletir sobre a utilização da “esquizoanálise”, mas depois acabei desistindo porque talvez perdesse a objetividade discurssiva para compreensão dos leitores do dia-a-dia. Fico feliz pela sua indagação.
    Os melhores cumprimentos

  8. Prezado Castor Filho

    No prefácio à edição de 5 de novembro de 1886 d`O Capital, Friedrich Engels diz o seguinte: “Todo novo aspecto de uma ciência implica uma revolução em seus termos técnicos”. Melhor dizendo, em ciência, a clareza é a cortesia do sábio.

    Saudações acadêmicas

  9. Prezado Sergivano Santos

    Primeira objeção:
    Se vc considera o caso em questão “assassino em massa” não tem relevância filosófica ou epistemológica. Por que? Massificação é um processo mediante o qual você opta, mas não decide. O assassino não só optou como decidiu como criminoso em série.

    Segunda objeção: a noção de tempo não pode mais ser vista deste prisma e sim como uma visão em paralaxe: medida de posição aparente de um objeto em relação a um segundo plano mais distante, quando esse objeto e visto a partir de ângulos diferentes.

    Terceira objeção: A metáfora do fenômeno óptico serve como instrumento crítico contra as falsas formas do universal na esfera da ação política: a unificação da vida pela biopolitica, a exclusão do espaço político propriamente dito e a redução do potencial subversivo da noção de liberdade. Estejamos atentos!

  10. Prezado Carlos Monteiro:

    Primeira objeção:
    Se vc considera o caso em questão “assassino em massa” não tem relevância filosófica ou epistemológica. Por que? Massificação é um processo mediante o qual você opta, mas não decide. O assassino não só optou como decidiu como criminoso em série.

    Segunda objeção: a noção de tempo não pode mais ser vista deste prisma e sim como uma visão em paralaxe: medida de posição aparente de um objeto em relação a um segundo plano mais distante, quando esse objeto e visto a partir de ângulos diferentes.

  11. Os textos são ricos em possibilidades, o que me permite, trazer a luz, algumas considerações divergentes ou não, a dos caros colegas. Iniciarei minhas considerações, desconsiderando a possibilidade de um serial killer. Entendo o episódio como uma chacina, um massacre. As sociedades modernas, inclusive a brasileira, tem demonstrado uma série de fatores que seriam consideradas patológicas por Durkheim em As Regras do Método Sociológico, portanto, nocivo a organização e ordem social, também discutido pelo autor a anomia em A Divisão do Trabalho Social, os conceitos relacionam-se, pois, neste caso, também é ausência de uma força reguladora, de um Sistema de Segurança Pública eficiente, pois, o nosso nesta perspectiva está falido e em alguns casos ultrapassado. A patrulha escolar ou a permanência de um policial nas escolas, livraria as famílias brasileiras, destas surpresas desesperadoras; não precisariam de um departamento de atendimento psicológico dentro da Escola para atender e/ou identificar casos dessa natureza; precisamos combatê-los antes de chegar dentro das escolas, na família, que é a base de toda estrutura social. Os políticos brasileiros não assumem suas responsabilidades, antes transfere aos cidadãos, como é o caso do Senador Sarney, que de imediato propõe um plebiscito como se isso resolvesse, o que de fato resolveria era trabalhar mais e roubarem menos e assumirem de fato aquilo (mandato), que a sociedade lhes confiou. O Estado é ineficiente, não consegue dar ao cidadão o mino que ele precisa, ou seja, não oferece uma boa Educação, não dá condições de Segurança, de Saúde, de assistência a família de forma eficiente. Um emaranhado de leis que de nada serve a não ser ao crime e a delinquência.

  12. Muitas serão as hipóteses ventiladas na tentativa de se encontrar as razões pelas quais aconteceu a tragédia que ceifou a vida de inocentes e, a maioria, tem de fato implicações sobre o ocorrido.
    Aos 61 anos de idade, eu me atrevo a dizer que o assassino é produto de uma sociedade que está doente. TODOS nós, indistintamente, desenvolvemos algum tipo de fobia, neurose, transtorno, frustração, enfim, ligado ao nosso estado emocional. A saúde mental do brasileiro está enferma!
    Evidentemente que os níveis variam mas, a agressividade, vem estendendo os seus tentáculos de forma extremamente perigosa.
    Os milhares de comentários sobre este crime brutal postados na mídia, demonstram reações preocupantes. Inegavelmente o siintoma principal do que estou afirmando – e prova incontentável – está na carnificina do trânsito a cada fim de semana; os estádios de futebol se transformaram em ringues, onde as torcidas exteriorizam seus demônios; as pessoas se ofendem gratuitamente nas ruas, a má educação impera. Portanto, eu discordo respeitosamente do sr. Castor, quando disse que era “caso de polícia e segurança física nas escolas”.
    Lógico, houve um crime, questão policial; o criminoso não encontrou resistência ao entrar na escola, pois não havia segurança, o seu “trabalho” foi facilitado, então.
    Demasiadamente simplória a conclusão obtida.
    A verdade é que não estamos bem em termos emocionais, e profissionais na área psicológica já deveriam estar permanentemente nos colégios estaduais e municipais detectando esta violência latente nos alunos em formas de agressões verbais e físicas, pressões de toda ordem, perseguições e assim por diante. Seguramente um tipo de violência que mais cresce no mundo, e o nosso país já está participando desses índices deploráveis.
    Existem medidas para enfrentar esses sintomas tão perturbadores nas crianças?
    Percebemos iniciativas no sentido de detectar previamente esta violência e tratá-la antes de maiores consequências?
    No caso deste assassinato, havia não só este aspecto de extrema gravidade, mas também a vida deste jovem era recheada de problemas de ordem psicológica. Ora, se os seus pais adotivos não perceberam ou não desconfiaram do comportamento introspectivo e nada fizeram ou não puderam, se a escola tivesse um serviço para tal finalidade, ou seja, um gabinete especializado em analisar a personalidade que demonstrava sinais visíveis de perturbação, certamente a história teria sido outra. E TODAS as escolas estão com este problema dentro de suas paredes, o bullying, se alastrando esta agressão para os professores também!
    Quanto aos dois revólveres que o assassino JAMAIS deveria estar portando, adquiridos por meios ilícitos, claro, nota-se as tentativas ridículas das autoridades se eximirem de suas responsabilidades pela OMISSÃO no combate ao contrabando de armas!
    A Secretária dos Direitos Humanos, srª Maria do Rosário, certamente mal informada ou orientada para desviar a atenção da população, teve a desfaçatez de culpar a venda de armas, que os seus colegas políticos, os senadores Sarney e Calheiros, rapidamente após o fato dantesco, acionaram a mídia para que o Estatuto do Armamento retornasse à pauta.
    Ninguém fala de suas incompetências e ineficiências nos serviços de suas responsabilidades:
    a polícia que deixa a desejar no controle de armas irregulares e o governo que não se preocupa com os quesitos de sua competência: saúde (um caos), educação ( a pior possível) e segurança (inexistente).
    Somados a esses problemas de falta de capacidade dos governos em todos os níveis nacionais, a nossa instabilidade emocional; nossas inseguranças como pessoa, nossos conflitos internos, omissões, a busca incessante por melhores condições de vida, filhos que surgem sem planejamento, adolescentes grávidas, drogas em profusão, os maus exemplos dos poderes instituídos, a corrupção desenfreada, os desvios de verbas, um mar de questões que exigem do ser humano uma força hercúlea para ele sobreviver e resistir às tentações do dia a dia, afora a degradação aviltante do sexo e novelas que demonstram a fragilidade de alguns diante dos poderosos e toda a sorte de malícias e imoralidades possíveis e imagináveis – o que estamos pensando?
    Que não haveria consequências para as nossas perturbações?
    Que os nossos filhos ficariam incólumes diante de comportamentos condenáveis que mostra a TV, os jornais, as autoridades, os políticos, os seus amigos e os próprios pais?
    Santa ingenuidade!
    E querem o instrumento mais eficaz que está nos levando celeremente às rais da loucura, haja vista o seu mau uso?
    INTERNET.
    Não era, por acaso, diante do computador que este doente mental e criminoso mais passava as horas de sua vida?
    Observem que o salutar “bate papo”, os jovens o fazem pelo celular; os amigos estão no Facebook, Orkut, e outros serviços; nossos filhos não recebem mais valores e princípios dos seus pais ou das autoridades mas, informações, tão somente.
    Elas (as crianças) não são mais acompanhadas em seu desenvolvimento mental.
    Antes que alguém me condene injustamente, eu não sou contra o computados, mas critico a forma irresponsável que os pais permitem o uso desta máquina sem maiores cuidados, enfim, perdemos o controle de nossas vidas e as decorrências estão à mostra para nosso desespero.
    Enquanto estivermos off-line diante das circunstãncias que permeiam a nossa existência e as pessoas ao nosso redor, difiicilmente voltaremos a encontrar a tão almejada paz de espírito, muito menos transmiti-la aos nossos filhos.
    O que eu disse acima é pouco.
    Estou apenas acrescentando o meu pensamento aos demais, portanto, nota-se claramente que o problema não é apenas caso de polícia e segurança na porta das escolas, mas de causas mais profundas e que estamos resistindo em trazê-las à tona, pois começam por nós mesmos.

  13. Confesso que esperava mais quando comecei a ler o texto!

    De um ponto de vista bém particular não considero Wellington uma assassino em série, mas sim um assassino em massa, pois matou muitos ao mesmo tempo. Acredito além da patologia mental bastante evidente outros fatores contribuem para episódios dessa natureza, como por exemplo uma sociedade que te cobra por tudo; se é magro tem que engordar, se é gordo tem que emagrecer, se namora tem que casar, se casa tem que ter filho, se entra em um emprego hoje tem que querer subir de posição na empresa, se esta na escola tem que cursar o ensino superior, se esta no ensino superior tem que ir para o mestrado e etc…, uma hora alguém enlouquece.

    Evidentemente não ha como justificar uma ação aos moldes de realengo, independente se ser uma ou doze vidas seifadas, porém acredito que seja possivel e necessário buscar explicações.

  14. Isso que aconteceu no Rio deve ser discutido como uma ação humana. Além de buscar pistas do perfil do protagonista, Wellington é nosso dever levantar questionamentos como:
    Em que medida a violência ou até mesmo a intolerância não reflexiva ou não racional está presente em minha vida?
    Como demonstro o meu interesse pelas pessoas (alunos, colegas de trabalho, familiares, amigos, vizinhos etc.) com as quais convivo?
    Compreendo o que elas tem a dizer?
    Minha postura, meus gestos, meus olhares etc. demonstram um real interesse pelo outro?
    Além disso, de que maneira retomo o dizer do outro? Faço perguntas instigando a continuidade da interação, mudo de assunto ou faço afirmações? Qual o efeito dessas escolhas para as interações?
    Acredito que o nosso real desafio é buscar interações verdadeiramente significativas para os parceiros da interação nas distintas instâncias da vida.

    Abraços, Karine Oliveira.

  15. Muito interessante o texto do prof. Braga pelas informações que presta e pela abertura de horizontes da compreensão da tragédia do Realengo. A ciência moderna se compraz em termos quantitativos, evidências, estatísticas ou indícios, descobrindo o quê, o como, o quando sem no entanto aprofundar no porquê. O prof. Braga nos traz o termo “tragoidia” remetendo o pensamento a Dionísio (Baco). Pelo mito a antiguidade apresentava as explicações aos fenômenos seguindo o sentido inverso da ciência atual, ou seja, partido do porquê só depois apresentando a narrativa do como ou do quando. Há sem dúvida um porquê nas atitudes de Wellington no Rio que dificilmente obterá consenso restando assim o terreno das hipóteses. Wellington encontrou na alienação religiosa o escape para a sociopatia que a mesma variável acabou por produzir em si. O projeto brutal tem fundamento no mito (Apocalípse?). Ele seria o “anjo vingador”, devendo ser ungido após seu ato, ser sepultado ao lado da mãe (religiosa), que alguém orasse para sí, para obter o benefício da ressureição no dia do Juizo Final….é uma hipótese.

  16. Prezado Ozaí
    Por esta eu passo. Não vou distribuir MAIS UM BESTEIROL escrito por “prefessô dotô ” sobre Realengo. Toda e qualquer análise que se faça a respeito deve ter sido dita, também, por alguns dos “prefessô dotô ” contratado pela “Grobo”.
    Esse assunto é coisa (ou caso) de POLÍCIA e SEGURANÇA física das escolas. NÃO tem NADA a ver com especulações psicomarquetadas de “chutadores” “psicaretas”.
    Abraço
    Castor

  17. talvez tenha me escapado, mas creio não ter lido nenhuma referência à esquizofrenia,
    sempre existente, no caso de serial killers.

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