A grande ilusão do socialismo e dos socialistas – Mauricio Tragtenberg

por Paulo Roberto de Almeida*

Fui aluno, talvez discípulo, mas certamente amigo de Maurício Tragtenberg, com o qual convivi em meus anos de formação acadêmica. Dele obtive a melhor inspiração de leituras e reflexões, como ocorreu com tantos outros jovens que também foram seus alunos e que com ele conviveram dos anos 1960 aos 1990, nas diversas escolas e faculdades em que ele lecionou. Como todos, eu tinha o maior respeito pelo mestre, pelas suas aulas e ensinamentos, o que não quer dizer que acatei totalmente suas ideias e concepções.

No começo, sim, tendíamos a concordar com ele, pois éramos todos socialistas, quase todos marxistas, alguns libertários, como ele, o que não era difícil no ambiente universitário daqueles tempos – talvez mesmo hoje –, ainda mais no contexto da ditadura militar vivida pelo Brasil dos anos 1960 aos 80.

Estas rememorações me vieram à mente ao ler uma resenha feita por Antonio Ozaí na Revista Espaço Acadêmico de setembro de 2010. Destacou ele um trecho de um dos livros – o qual já tinha lido em edição anterior – agora reeditado graças aos esforços de seus seguidores, alunos, discípulos. Assim reza o trecho:

É pela socialização dos meios de produção controlados pela classe operária organizada em suas organizações diretamente representativas, que é possível efetuar-se a passagem de uma sociedade liberal capitalista a uma sociedade planificada, evitando o capitalismo de Estado e o totalitarismo, conservando as liberdades básicas do homem.[1]

Ao ler esse trecho, constato que nesses poucos argumentos estão resumidos, de forma muito transparente, a grande tragédia do socialismo e dos socialistas, incluindo, portanto, o próprio Mauricio Tragtenberg. Rememoro meu último encontro com ele, exatamente como ocorreu, e depois retomo o argumento substantivo.

Fui visitar Mauricio Tragtenberg em sua casa, em meados dos anos 1980, depois de longos oito anos de intervalo, ao ter voltado de minha segunda estada na Europa, e depois de ter conhecido praticamente todos os socialismos reais, aliás, os únicos existentes. Tinha também conhecido um socialismo “surreal’ na Iugoslávia, a última réstia de esperança para aqueles que, como ele, valorizavam não o socialismo burocrático, centralizado, mas a sua vertente auto-gestionária, supostamente mais benigna ou pretensamente mais “funcional” (já que seria isento dos pecados do excesso de centralismo e de burocratismo estatal).

De forma puramente factual, pude confirmar, para decepção do velho mestre, que, em qualquer da modalidades, o socialismo não funcionava como modo de produção econômica, e menos ainda como forma de organização social. O sistema simplesmente não conseguia fornecer à população bens de uso corrente (esqueçamos produtos mais sofisticados), na quantidade e na qualidade requeridas

Se formos, então, analisar seu desempenho na área política, e nessa vertente a questão crucial das liberdades, seria forçoso concluir que TODAS as experiências socialistas redundaram em fracassos absolutos, já que todas elas recorreram à mais violenta das tentativas de remodelação social conhecidas na história, e todas conduziram a sistemas autoritários, quando não totalitários, e a uma opressão ainda maior do que aquela existente nos antigos sistemas feudais ou capitalistas.

Portanto, ao reler o velho mestre, nas linhas selecionadas na resenha, que acreditava que seria:

“…possível efetuar-se a passagem de uma sociedade liberal capitalista a uma sociedade planificada, evitando o capitalismo de Estado e o totalitarismo, conservando as liberdades básicas do homem

o que eu teria a dizer-lhe, novamente – e que já tinha dito diretamente a ele, em minha volta do socialismo – seria que, NÃO, infelizmente, essa passagem não é possível, pois NENHUMA sociedade planificada centralmente, no sentido socialista – ou seja, sem garantir a propriedade privada dos meios de produção – JAMAIS conseguiu preservar as liberdades básicas do homem.

Sorry, velho mestre, mas a História não esteve consigo, nesse particular, ou seja, não caminhou no sentido desejado por tantos libertários e outros sonhadores socialistas. Não se trata de falhas teóricas dos socialistas ou de incapacidade organizacional de seus movimentos de massa, e sim de impedimentos estruturais que têm a ver com as prescrições formuladas para a organização econômica da sociedade, de uma contradição primária, como diriam os “sábios” da academia soviética.

Tudo isso não me impede de saudar a enorme erudição do mestre, agradecer-lhe, sempre, as inúmeras lições intelectuais que recebi dele, as infinitas recomendações bibliográficas e de leitura, e aquele fino gosto pela ironia que era a marca registrada de Mauricio Tragtenberg.

Grato por tudo, velho mestre, mesmo estando do outro lado do processo histórico, do lado da utopia, esta era formulada com a melhor das intenções, e você foi um homem verdadeiramente digno, honesto intelectualmente, uma personalidade admirável. Minha homenagem a um educador exemplar.


* PAULO ROBERTO DE ALMEIDA é Doutor em Ciências Sociais, Mestre em Planejamento Econômico e Diplomata de carreira. (www.pralmeida.org; diplomatizzando.blogspot.com)

[1] In: Mauricio Tragtenberg: O capitalismo no século XX (2ª. ed. revisada e ampliada. São Paulo: Editora UNESP, 2010; Coleção Maurício Tragtenberg, 186p.), p.170-171.

24 comentários sobre “A grande ilusão do socialismo e dos socialistas – Mauricio Tragtenberg

  1. VIVA O COMUNISMO!!!!
    PORVENTURA O COMUNISMO FOR ILUSÃO, MELHOR SERIA LUTAR POR ESSA ILUSÃO, QUE VIVER EM UM SISTEMA ONDE O TRABALHADOR É ESCRAVIZADO E SUBMETIDO AOS PODEROSOS!!!
    NÃO TEMOS NADA A PERDER, PELO CONTRÁRIO, SÓ A GANHAR!!! APENAS OS BURGUESES QUE VÃO SAIR DERROTADOS!!!!

    “OS GRANDES SÓ PARECEM GRANDES PORQUE ESTAMOS AJOELHADOS.”

  2. e esses interesses não são nem socilaistas nem capitalistas.
    É a busca ao poder e ao controle!!

    EUA e China são lindos parceiros comerciais!!!

    Cade a diferença ideológica?

  3. Ai,ai,ai Eder, sorte sua que sou paciente. Abraços para você!

    Dedé, de onde você tirou que a China é o país que mais distribui renda? A China cresce não por mérito do Estado socialista totalitário, cresce por que capitalistas que não estão nem aí para o povo chinês injetou tecnologia e dólares neles. Cresce a custa de milhares de chineses doentes por poluição, a custa do meio ambiente poluido, a miséria de salários pagos aos operários…

    Seja capitalista ou socialista o sistema econômico, ele depende de ações humanas caramba!! É difícil entender isso?
    Fica bem claro o valor que o Estado chinês dá aos seus cidadãos!!!

    Hoje em dia existe maiores interesses

  4. ROUSSEAU tinha razão em afirmar que a adoção da propriedade privada era a causa de todos os males. O país que mais crece e distribui renda é a China que não abandonou o norte socialista, evidentemente com uma nova tática e estratérgia. As crises do Capitalismo reforçam a ideia do socialismo. Os caminhos não são mais os mesmos, mas os objetivos ainda são. Lembre-se: A melhor propriedade é a coletiva que garante as necessidades privadas, individuais dos seres humanos. O capitalismo e o liberalismo e o lucro como motor da História fracassaram nesse objetivo. Viva o socialismo e os socialistas.

  5. Jeferson, não fique irritado. Não tenho que argumentar nada pra vc. Pense (ou não) o que achar melhora pra vc. Porém, saiba que risada é argumento! Silêncio é argumento! E aquilo que vc acha que eu não compreendo pode ser sua própria cegueira.

  6. “Nenhuma coisa X é conhecida; logo, a coisa X não é possível”: qualquer raciocínio que tenha essa forma está errado por antemão. Esse é um erro lógico famoso, presente em qualquer manual de Lógica, naqueles capítulos que eles dedicam às falácias. Não estou afirmando que o Socialismo seja possível nem impossível. Estou apenas afirmando que o argumento do autor deste texto é equivocado. Se o Socialismo for mesmo impossível, não será pela razão que ele mencionou. Seu argumento é claramente falacioso. Um homem do século XV poderia usá-lo assim: “nunca se viu homens voando; logo, é impossível que homens voem”; e a história o desmentiria alguns séculos mais tarde. O caso é: o fato de nunca se ter conhecido algo não é condição suficiente para afirmar que esse algo é impossível.

  7. ‎”Hay hombres que luchan un día, y son buenos.
    Hay otros que luchan un año, y son mejores.
    Hay quienes luchan muchos años, y son muy buenos.
    Pero hay los que luchan toda la vida:
    esos son los imprescindibles.”
    (Bertolt Brecht)

  8. Ah! esqueci, apenas um comentário: cuidado para não deturpar as palavras de Tragtemberg, sempre socialista e soube diferenciar o direito de Estado com a versão burguesa de Estado de Direito. Também, não é de Marx o derterminismo histórico, ainda que Engel, em algum momento de sua vida teve uma crença próxima a isso. Para Marx, a história é casual e o homem teleológico, nisso não há nenhuma discordância com o pensamento anárquico, pelo menos o predominante. A questão divergente, e Tragtemberg explica, está nos caminhos pós-revolucionários.
    Abços a todas/os pelas reflexões!

  9. Fui orientando de Tragtemberg, mestrado e doutorado, uma grande referência para quem quer iniciar-se nan utopia anarquista. Saudades! Conheci Tragtember através de um dos seua amigos de infância, Jaime Kubeiros, um bom amigo com quem tive inúmeras conversas sobre temas diversos: ecologia, globalização, sindicalismo etc. Os levei a dar palestras na UMESP, mas não consegui no Mackenzie (leciono em ambos). Uma das coisas que tivemos reflexões mal resolvidas diz respeito à questão da luta de classe e ditadura do proletariado, como na prática socializar o poder político no mesmo passo em que se socializam as relações econômicas? Fica o desafio…

  10. Mauricio Tragtenberg não precisa dessa homenagem “fajuta”. Se o articulista que passar suas idéias liberais, como o faz sempre. que continue fazendo livremente, sem usar um disfarce tão primário

  11. Queridos amigos.
    Quanto as experiências socialistas que redundaram em fracassos absolutos, disso eu não tenho dúvidas, pois, é um fato consumado.
    Hoje as nações caminham rapidamente para soluções de vida compartilhada, fraternal, reconhecemos que os direitos devem ser iguais para todos, porém, tais direitos são concedidos à todos aqueles que ousadamente optaram pelo regime democrático de direito.
    Ninguém hoje pode viver sem os preceitos da democracia , onde todos escolhem o que é melhor para si e para todos.
    Os regimes de força não seduzem mais a humanidade.
    A humanidade quer viver em paz, em harmonia, e compartilhar sabedorias e conhecimentos.

  12. Ao ler recentemente o artigo do prof. Mário maestri sobre a derrota do trabalho frente ao capital, nas últimas eleições, em bela análise sobre o fracasso dos partidos ditos de esquerda, com forte crítica à opção do voto envergonhado em DiLLma no segundo turno, sb o eufemismo Nenhum Voto ao Serra (PSOL) ou Derrotar Serra nas Urnas e DiLLma nas ruas (PCB), resolvi escrever um artigo (em andamento), onde concordo com a crítica ao resultado obtido pelos Partidos ditos de esquerda nestas eleições, mas avançando e colocando em discussão qual uma possível e determinante causa dos Partidos que propugnam o Socialismo como forma de governo e formatação sócio econômica, historicamente ao chegarem ao Poder se burocratizarem (até mesmo antes desta chegada ao Poder), ou não conseguirem avançar no convecimento da população sobre suas teses, malgrado a desvantagem em relação à poderosa burguesia e seus meios, mas que não é toda a causa do roblema, segundo também o prof. Mario Maestri.

    O prof. gaúcho, um dos expoentes do pensamento trotkista (em uma de suas 1001 vertentes) coloca o problema nas opções táticas equivocadas dos Socialistas.

    Neste artigo em andamento, pretendo aventar a hipótese que é possivelmente uma visão estratégica equivocada, a concepção socialista da sociedade, com a reservação deTODAS (e mais algumas) estruturas representativas, hierárquicas e de poder, além de uma planificação da economia que apenas tem afiado a garra de autoritários natos “de esquerda”, na ilusão que basta ocupar a estrutura do Poder Burguês com socialistas, que tudo mudará. Além de uns doidivanas que se acham a própria encarnação de Cristo, achando-se Vanguardas neste rocesso, e tomando a si as decisões sobre o Povo.

    O nome domartigo a ser publicado em breve é Socialismo quem, cara pálida?

    Evidente que proponho uma leitura não dogmática de alguns legados Anarquistas, e não exclusivamente Anarquistas, para podermos estabelecer um novo patamar de discussões na esquerda brasileira e mundial.

    Estarei enviando ao blog Espaço Acadêmnico do prezado Ozaí.

  13. Eder,

    Primeiro, risadinha não é argumento.

    Segundo, eu não disse que a mídia era a favor do povo.

    Se você não percebe isso, paciência.

  14. “Jeferson Pereira Leal disse:

    Consiste que você, mesmo com a sociedade que vivemos, falha, tem liberdade de expressão, condições de por mérito e conhecimento, empreender produtos, idéias, serviços, etc.”

    Liberdade de expressão? Humm, entendi. Tipo aquela cedida gentilmente à Maria Rita Kehl…rsss

  15. Olá,

    Debatamos o bom debate.
    Em 1980 vivi maravilhosos 90 dias em um kibutz em Israel. Não sou judeu. Ganhei um concurso de composição musical e o prêmio era a viagem, a estada no kibutz e a estreia da composição nova a ser composta lá. Compus e estreei, no Festival da SIMC, a obra que compus no kibutz: Elegia Violeta para Monsenhor Romero, para coro iunfantil e orquestra.
    Era o kibutz Hatzerin, no norte de Israel, no deserto de Neguev.
    A vida no kibutz era uma perfeita experiência de uma sociedade realmente socialista-comunista: “”de cada um conforme sua capacidade, a cada um conforme sua necessidade”.
    A maioria dos kibutizin era de judeus argentinos. A cada ano alguns deles viajavam à Argentina para fazerem trabalho de proselitismo, para levarem para o kibutz novos residentes.
    Por que isso? Explico: os jovens, filhos dos velhos kibutzin, nascidos no kibutz, não queriam continuar a viver no kibutz. Chegando à maioridade saiam para servir as forças armadas e nunca voltavam, fascinados com as “belezas” e atrativos do mundo capitalista de Tel Aviv, Beersheva, Eilat e outras cidades.
    Aqueles atrativos já entravam pela TV, no kibutz. A juventude preferia ficar onde estava o bochicho, a competição, a galinhagem, a moda, os modismos, a putaria, a ópera, o show business, o rock, as drogas etc.
    Desde aquela época, com aquela experiência, concluí que, realmente, não pode haver socialismo num lugar enquanto em outros lugares existirem capitalismo.
    Estudando mais, depois de estudar Marx, Engel, Makno, Lenin, Bakunin e Pierre-Joseph Prodhon, cheguei até Trotsky e depois a Nahuel Moreno.
    A revolução tem que acontecer por toda parte, ao mesmo tempo. Caso contrário os sonhos de Mauricio Tragtenberg nunca se realizarão.

  16. “…TODAS as experiências socialistas redundaram em fracassos absolutos…”
    pois bem, gostaria de saber em quê consiste a ‘vitória’ do capitalismo e da propriedade privada.

    Consiste que você, mesmo com a sociedade que vivemos, falha, tem liberdade de expressão, condições de por mérito e conhecimento, empreender produtos, idéias, serviços, etc.
    O capitalismo não é falho, se a liberdade de mercado realmente existisse, justamente pela intervenção estatal ela não existe. (http://www.midiasemmascara.org/artigos/economia/11581-o-conceito-de-neoliberalismo.html)

    Me digam por que o governo salva empresas que estão para quebrar por imcompetência? Se o livre mercado existisse, elas quebrariam e pagariam pelos seus erros. Seria de menor custo para o Estado bancar as famílias que perderam o emprego por anos do que bancar os bilhões de dólares para reerguer a empresa imcompetente.

    O que as pessoas não percebem é que seja capitalista ou socilalista o sistema, ele sempre esteve, está e quem garante que não estará, nas mãos de meia dúzia de famílias. Isso é por acaso?
    http://www.estadao.com.br/noticias/economia,estudo-mostra-que-40-da-riqueza-global-estao-nas-maos-de-1,343937,0.htm

  17. Olá Paulo, tenho alguns livros russos editados em Portugal que mostram de “forma científica” os processos de transição e a construção de uma sociedade comunista. Folheio-os sempre e fico pasmo de ver o tamanho da viagem que embarcamos (todos os que militaram pela construção socialista, em suas diversas vertentes). Mas acho que de tudo ficaram lições e aprendizagens. Lembrei-me, agora escrevendo, de um professor que tive no ensino médio – que eu sempre chamava de “reaça” – dizendo nas suas aulas de geografia para alunos do ensino médio que quando chegássemos aos 50 (como ele) descobriríamos que tão difícil quanto mudar o mundo, é mudarmos nós mesmos em primeiro lugar. Achava aquilo tudo muito reacionário. No final, acho que ele não estava tão errado assim. Hoje, pensando melhor, talvez o caminho seja mudarmos nós em primeiro lugar e assim mudar o mundo. Ou isso também será só mais uma utopia? De verdade nisso tudo temos uma coisa, que chamo de morte das utopias. O sonho de um mundo melhor hoje passa pelo carro do ano, pelo celular de última geração, pelo notebook “da hora”, quer dizer, pela democratização do consumo, ou seja, o sonho da cultura industrial liberal.

  18. Olha meu caro,eu sou da velha escola do velho professor,continuo acreditando sem determinismo histórico que o mundo caminha para o socialismo.
    Se as experiencias vividas por nós nesse periodo da humanidade,obviamente todos nós sabemos que a sociedade ideal sempre foi e sempre será um objetivo a ser perseguido,logo não será desistindo da luta pelo SOCIALISMO que iremos substituir a barbárie em que vivemos.
    Com todo respeito às diferenças abraços do Otavino

  19. Se o socialismo foi, indubitavelmente, uma “experiência” frustrante e ilusória não o é menos a realidade capitalista. E, talvez, por tentar de forma ingênua e inconsequente realizar tarefas através de operadores constituídos sob os valores do capital, ainda que dele discordando, e assim, instituir uma praxis que apenas desloca a propriedade do individual para o coletivo, mas ainda assim nela se baseia, não haveria mesmo qualquer possibilidade de sucesso.

    Não existe ainda, e a realidade grita para quem quiser ver, um horizonte definitivo em que se assente o consenso do certo, infalível e inequívoco. A menos que se entenda como impossível aperfeiçoar as relações humanas a um nível da civilidade onde a mediação de interesses contraditórios não admita a completa aniquilação de um dos lados.

  20. O processo civilizatório (atenuação da lei do mais forte) levará inexoravelmente ao socialismo. Aliás como Marx dizia, é a consequencia logica do desenvolviemento da humanidade. O capitalismo hoje não vive mais sem o amparo do Estado que tanto combate. Depende dele para sobreviver. O Estado corrige o defeito congênito do capitalismo, qual seja: destruir a demanda futura. A sua maior qualidade é o seu maior defeito. O Estado vem salvando o capitalismo nesses dois séculos da sua maturidade e este ainda morde a mão de seu salvador.

  21. Julgo que este apontamento peca por ser excessivamente simplista. Infelizmente não tive possibilidade de trabalhar numa das sociedades socialistas que existiram, pelo que tenho dificuldade em identificar as causas que levaram aos modelos de sociedade e económicos do leste europeu e identificar os efeitos que geraram e as diferenças que eventualmente existiram entre eles. No entanto a experiencia da importação desses modelos pelos países africanos vivia, tendo participado no processo da sua destruição, leva-me a concluir, que essas sociedades foram geradas e desenvolvidas num contexto próprio do qual não nos devemos abstrair, que sua concretização deve ser levada num quadro fortemente participativo e que figuras mercado devem coexistir com a dita economia planificada. Por outro lado, dever-se-á levar em consideração que essas sociedades criaram condições na área da saude e da educação, cujos beneficios ainda hoje se fazem sentir nessas socieadades. Fico-me por aqui, por ser esta uma matéria que requer muita reflexão, nomeadamente se se quer olhar para esta situação numa óptica de futuro. Para mim, uma das questões que se coloca, reside em como evitar a criação de elites que se acaparam dos comandos da sociedade.

  22. Então vida longa ao capitalismo, ilustre diplomata!!!
    O fato de todas as experiências ditas socialistas terem fracassado e serem marcadas por insuficiências transformadoras não significa afirmar, como o ilustre diplomata o faz, que a luta por uma sociedade igualitária é necessariamente inviável.
    Aí reside a grande diferença entre aqueles que foram de esquerda por modismos ou por influência da conjuntura histórica em que viveram, passando para a direita assim que a vida se torna mais confortável, e os verdadeiramente de esquerda, aqueles que fazem da luta anti-capitalista a principal razão de suas existências.
    Pena que tantos aluno do Tragtenberg tenham passado para o outro lado, como voc~e bem ilustra com suas palavras pretensamente sábias.
    Fique com sua defesa do capitalismo e da liberdade que este garante, que nós libertários continuaremos nossa luta anti-capitalista nesse guerra de mil anos.

  23. “…TODAS as experiências socialistas redundaram em fracassos absolutos…”
    pois bem, gostaria de saber em quê consiste a ‘vitória’ do capitalismo e da propriedade privada.

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