O papel das mulheres no mundo Greco-romano

por MARISTELA REMPEL EBERT*

A presente análise pretende abordar as condições das mulheres nas sociedades antigas: a Grécia Clássica e a República Romana em sua época de glória, apontando a situação miserável e precária às quais estava sujeito todo o ser humano que nascesse mulher. Com isso não se pretende afirmar que estas condições eram limitadas ás mulheres, uma vez que a maior parte da população vivia de forma semelhante, mas que esta realidade era ainda mais dura com elas, infringindo ao ser feminino, rico ou pobre, papéis semelhantes. Esta exposição visa ser um alento às conquistas históricas das mulheres, como também, apontar a importância da participação delas no mundo político (não apenas no trabalho).

Esta temática encontra dificuldades tanto por se tratar de uma época remota da qual a humanidade legou poucos registros e ainda mais, por se tratar de questões que envolvem a vida privada (relações familiares, prostituições, etc.), em especial das condições de mulheres que sequer podiam participar da vida pública (da política). Os historiadores antigos raramente mencionavam estes temas, e quando o faziam procediam muitas vezes de forma preconceituosa, fragmentada e até mesmo distorcida. Em geral, estas referências são encontradas naquelas obras que nem mesmo eram consideradas clássicas, tais como o gênero da comédia (sátira) de Petrônio ou do grego Aristófanes, entre outros. Dessa forma, esta análise vai se apossar em grande parte a partir da visão destes intelectuais antigos pouco famosos na época, provavelmente por tratarem da arte na forma cômica e pouco culta, mas que de alguma forma apontam elementos cotidianos destas sociedades para além do ideal do homem político, racional e virtuoso da Atenas Clássica e Roma.

A Grécia Clássica era formada por inúmeras cidades-estados, cada uma possuindo uma organização própria em termos de política e economia. Atenas dentre várias outras, sobressaiu-se e tornou-se símbolo de desenvolvimento cultural, intelectual e de sociedade democrática e livre, servindo de parâmetro para a política até hoje. Nela, todos os cidadãos participavam das decisões da pólis por meio de assembléias em praça pública (ágora). Embora seja uma experiência original e digna de admiração, é preciso lembrar que poucos possuíam o título de cidadão (condição essencial para participar da pólis), pois implicava uma série de requisitos, entre eles, não ser estrangeiro e ter escravos para que o cidadão estivesse liberado das tarefas braçais para se dedicar aos assuntos políticos. Ou seja, estrangeiros, mulheres, escravos e crianças ficavam a margem desse processo. Anderson (1992) menciona que havia neste período (século V-IV a. C) cerca de 250.000 habitantes em Atenas e destes, somente 45.000 eram considerados cidadãos.

Nesse contexto, Salles (1987) afirma que as mulheres eram divididas em três tipos: as esposas, que ficavam restringidas ao espaço familiar (gineceu) não tendo praticamente contato com outros homens que não fossem da família e tinham a tarefa de gerar filhos legítimos; as concubinas[1][, que ajudavam seus senhores nas tarefas diárias (escravas ou livres); e as prostitutas[2] (ou cortesãs) visando a satisfação dos prazeres, preservar a castidade das mulheres livres (esposas e filhas de cidadãos), sendo que haviam casas licenciadas (lupanar) para tal finalidade. Entre essas últimas haviam diferenças: as mais belas eram conhecidas como hetairas[3], muitas vezes serviam de inspiração para artistas e filósofos, desfrutavam de amores e paixões, participavam dos banquetes e algumas inclusive acompanhavam cidadãos em atividades públicas da pólis[4], e até mesmo haviam estátuas[5] construídas em sua homenagem. Diferente das esposas que não recebiam nenhuma instrução, as prostitutas eram iniciadas nas artes, na música, na dança, e em alguns casos, participavam dos debates filosóficos. Aristófanes (2003), artista grego, apresentou uma peça do gênero cômico intitulado “Lisístrata: A Greve do Sexo”, onde narra a greve de sexo das mulheres para forçar os homens atenienses a desistirem da guerra contra outra cidade grega (fato que teria ocorrido 415 a.C), obviamente satirizando, uma vez que as mulheres sequer eram consideradas cidadãs e não tinham voz para interferir nos rumos políticos.

Também para filósofos como Platão e Aristóteles, o verdadeiro amor só era possível entre os homens (dotados de razão), pois as mulheres eram símbolo das virtudes sensíveis e dos prazeres físicos, condições estas que as impediam de alcançar a plenitude da razão. Para Plutarco, era impossível o amor verdadeiro entre homem e mulher porque entre eles era natural o desejo carnal e tal união só podia ser física e não espiritual. Sendo natural então que mesmo as esposas (mulheres livres) não pudessem participar da polis, uma vez que não tinham capacidade do uso pleno da razão. Dessa forma, todas as mulheres eram excluídas da participação política, papel esse essencial para os gregos. As “esposas” dos cidadãos possuíam a garantia do respeito e proteção do Estado; as prostitutas não possuíam nenhuma garantia, vivendo a ameaça constante da miséria, contudo, em um certo sentido as mais famosas eram mais livres e tinham mais acesso ao mundo público que as esposas. Entretanto, ambas tinham em comum sua exclusão do espaço público e o risco de passarem fome, pois mesmo as esposas só eram reconhecidas enquanto tal, uma vez que ao ficarem viúvas perdiam sua condição natural de proteção[6] e mesmo aquelas que tentassem continuar os negócios do marido encontravam dificuldades devido ao preconceito, vendo-se muitas vezes obrigadas a se entregarem a prostituição[7].

Assim como cada cidade-estado tinha suas particularidades em termos de organização política, também haviam diferenças culturais, religiosas e na forma como eram vistas as mulheres e a prostituição. Salles (1987) afirma que na cidade de Corinto, sob influência de divindades estrangeiras (dos Egípcios e Persas), existiam templos que prestavam culto em homenagem a Afrodite (deusa da fecundidade). Nestes locais a prostituição era sagrada[8], e toda mulher virgem devia ser possuída, ao menos uma vez, por algum estrangeiro para obter a proteção da cidade pela deusa e só então podiam voltar para casa e se casar. Dessa forma, os estrangeiros deixavam verdadeiras fortunas nesses templos. No Egito e na Armênia, as jovens virgens deviam se prostituir para adquirir seu dote antes de casarem.

A partida de Coriolano, óleo sobre tela, R. Postiglione, século XIX

Diferente das cidades-estados da Grécia, a sociedade romana possuía uma organização de Estado mais flexível. Segundo Anderson (1992), a República era constituída pelo senado (membros pertencentes à classe aristocrata dos patrícios), que cuidava das finanças, administração e política externa; pelos cônsules (dois), escolhidos para executarem as decisões (sendo eleitos anualmente); as assembléias; e incorporando, também, mais tarde, os tribunos por regiões, estes últimos em conseqüência dos conflitos internos (entre patrícios e os plebeus, recente classe emergente). O titulo de cidadania era concedido a todo indivíduo romano livre e mesmo às cidades (classe dirigente) aliadas da Itália, e neste sentido era mais amplo que a abrangência grega, contudo a participação dos romanos nas decisões políticas era muita mais formal que prática, já que incorporaram o modelo de participação representativa (não direta) dos cidadãos. Isto significa que as decisões eram hierarquizadas, realizadas de uma instância para outra, diferente das assembléias gregas que todos podiam participar e opinar, sendo decidido em praça pública os rumos da cidade. Ou seja, os romanos jamais democratizaram de fato sua estrutura política; em sua raiz mantiveram-se aristocratas, incorporando os plebeus (classe mais pobre) apenas formalmente para diminuir os conflitos internos. Diferente dos gregos, também seu sistema republicano centralizador buscou a expansão Imperial a todos os cantos do mundo, conquistando e subjugando os povos do mediterrâneo e do norte, tendo sua economia centrada no trabalho escravo em larga escala. Segundo Anderson (1992) e Salles (1987)[9], a diferença entre pobres e ricos em Roma é infinitamente maior se comparada às cidades-estado gregas.

Os romanos ostentavam muito mais riquezas e excessos que os gregos (que primavam pela virtude do equilíbrio), embora tentavam assimilar o modelo cultural da civilização helênica, já que em sua origem eram um povo muito rudimentar. Petrônio (1985), historiador romano, em sua obra “Satyricon”, ressalvado os exageros próprios da sátira, descreve em detalhes os excessos e as desmedidas romanas, seja com relação às orgias dos banquetes ou o exagero de comidas e bebidas. Segundo Salles (1987), apesar das diferenças de organização de uma e outra sociedade e mesmo por se tratar de épocas diferentes (Roma do século II e I a.C), em ambas a miséria e a ameaça de fome eram constantes. Também, grande parte das pessoas encontravam-se excluídas do processo de participação política e com as mulheres esta realidade não era diferente. É importante frisar que as mulheres romanas gozavam de maior liberdade, pois mesmo as esposas podiam circular nas ruas e participar dos banquetes[10]. Contudo, a prostituição era ainda mais acentuada e visível nas ruas e nos banquetes romanos. Aliás, para Salles (1987)[11], a prostituição nestas sociedades era um componente estrutural da ordem social, pois tratava-se de higiene pública das mulheres e das crianças de nascimentos livres.

Para os pobres em ambas as sociedades, diz Salles (1987), o nascimento de uma menina significava apenas mais uma boca para comer, sendo comum o abandono e a prostituição precoce. Aliás, as meninas, ricas ou pobres, eram expostas, no primeiro caso para arranjarem um bom casamento e no segundo, para tornarem-se prostitutas. Em Roma, também havia hierarquia entre as prostitutas: as mais famosas detinham privilégios, e não apenas financeiros, pois há relatos de influenciarem politicamente seus amantes. Mas também elas, a exemplo das gregas, sofriam com a ameaça constante de que a beleza sumiria e com ela a advinda da miséria.

Portanto ser mulher nessas sociedades, pobre ou rica, bonita ou feia, determinava seu destino imediato mas não a longo prazo pois todas coexistiam com a ameaça constante da miséria absoluta. Para ambas, prostitutas ou esposas, era vedado o título de cidadãs, contudo o papel exercido de uma ou outra determinava o acesso maior ou menor à liberdade[12], e em alguns casos na participação da vida pública, embora sem direito de voz.

Ao retomar essas duas realidades, quer-se salientar o quanto se avançou hoje se comparado ao passado, seja em termos sociais (garantia de políticas públicas) como econômicos (acesso ao mundo do trabalho) e mesmo políticos. Mas também, afirmar que ainda se está longe de baixar as bandeiras de luta não apenas considerando a realidade precária de milhares de mulheres que vivem no mundo oriental, mas também os limites cotidianos encontrados no ocidente. Tanto no que diz respeito às relações afetivas mais equilibradas entre homens e mulheres (questão de gênero), como condições mais adequadas de acesso e permanência no mercado de trabalho, e com especial destaque para participação limitada das mulheres no mundo público da política. Como diz Arendt (2002), é preciso resgatar o conceito grego de política da participação nas decisões dos rumos da sociedade, questões essas que ultrapassam as melhorias econômicas imediatas de subsistência (embora essas sejam muitas vezes entraves iniciais para o engajamento das mulheres na vida política). É preciso resgatar o conceito grego de cidadania, da pessoa como um ser político que decide seu próprio destino e o da sociedade, mas para de fato ampliá-lo para o conjunto dos seres humanos. É preciso ultrapassar o discurso no campo da política e torná-lo um instrumento prático de participação e decisão efetiva, rompendo com o modelo formal e representativo do mundo público da política predominante em nossa sociedade.

Referências

ANDERSON, Perry. Passagem da Antigüidade ao Feudalismo. São Paulo: Brasiliense, 1992.

ARENDT, Hannah. O que é Política. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.

ARISTÓFANES. Lisístrata.A greve do sexo. Porto Alegre: L&PM, 2003.

PETRÔNIO. Satyricon. São Paulo: Brasiliense, 1985.

SALLES, Catherine. Nos Submundos da Antigüidade. São Paulo: Brasiliense, 1987.



* Publicado na REA 63, agosto de 2006, disponível em: http://www.espacoacademico.com.br/063/63ebert.htm MARISTELA REMPEL EBERT é Doutoranda em Ciências Sociais na Unisinos – Universidade do Vale do rio dos Sinos(2009). Lattes: http://lattes.cnpq.br/6175120620973869

[1] Segundo Salles (1987), as concubinas eram consideradas aquelas mulheres com mais sorte por serem retiradas da casa de prostituição por algum cidadão, e em alguns casos, sendo colocadas para coabitar com a própria esposa. Era uma união com a qual muitas delas sonhavam, mas o seu protetor não possuía qualquer obrigação legal, podendo empregá-las em qualquer trabalho e até mesmo abandoná-las.

[2] Segundo Salles (1987), o legislador romano Sólon teria organizado as casas de prostituição conhecidas como “Lupanar”, inclusive com cobrança de impostos, para proteger as mulheres livres dos desejos excessivos dos rapazes e daqueles que não se continham, visando manter a pureza de raça dos cidadãos. Embora houvessem casas clandestinas e mesmo prostitutas nas ruas, esta realidade é incomparável com o que será visto no Império Romano. Sólon também teria introduzido a idéia de divisão hierárquica entre as mulheres, divididas pelo critério (não econômico: pela fortuna no caso dos homens) dos papéis desempenhados: esposas livres e prostitutas (livres ou escravas). Assim como alguns escravos podiam ser livres, comprando sua liberdade (denominada de alforria), também algumas prostitutas famosas acumulavam grandes fortunas e compravam sua liberdade, mas mesmo assim não se tornavam mulheres livres (capazes de se unirem como esposas a algum cidadão), e ambos eram impedidos de serem cidadãos.

[3] Tais como Laís, Frinéia, Taís, Neera, etc.

[4] Alcebíades, um famoso político de Atenas, costumava levar sua companheira (hetaira) a atividades públicas da pólis.

[5] Salles (1987) cita o exemplo de Frinéia, umas das hetairas mais famosas que acumulou grandes riquezas e após a destruição dos muros de Tebas (em 335 a C.), reconstruiu-os e exigiu a seguinte inscrição: “Alexandre as destruiu. A prostituta Frinéia as fez reerguer”.

[6] Para Salles tal situação em alguns casos era amenizada quando algum membro da família (tipo irmão, pai, filho) assumia a responsabilidade pela viúva, mas eram situações pouco comuns.

[7] Salles (1987) menciona uma narração na qual uma mãe denominada de Crobila (esposa de um artesão) ficou viúva e após vender todos os instrumentos do marido para manter a casa, começa a orientar sua filha Corina em como tornar-se prostituta de fama, adquirindo assim o sustento de ambas. A filha não tinha mais de 10 anos.

[8] Embora há poucos registros sobre a prostituição sagrada e laica.

[9] Para ambos os teóricos, o uso de escravos em larga escala é desconhecido para as sociedades anteriores (mesmo em Atenas).

[10] Segundo Salles (1987), somente as prostitutas podiam se maquiar e deviam usar roupas escuras para serem diferenciadas das mulheres honestas. Nos festins, somente as primeiras podiam deitar-se no leito de madeira, enquanto que as esposas deviam permanecer sentadas.

[11] Agostinho disse:”se banires as prostitutas da sociedade, levarás essa ao caos por causa da luxúria insatisfeita” (SALLES, 1987, p.173).

[12] As filhas dos cidadãos, candidatas a futuras esposas eram naturalmente livres, enquanto as prostitutas tinham que comprar sua liberdade. Mas a possibilidade de liberdade de um ou outro caso é discutível, afinal as primeiras tinham o título de esposas e as vantagens inerentes ao título, e no entanto, sequer podiam sair do espaço privado, diferentes das segundas que não eram naturalmente livres e nem podiam ter o título de esposas (no máximo concubinas), e no entanto, podiam circular e participar de atividades públicas ainda que acompanhando um homem (cidadão) em Atenas. Em Roma, mesmo as esposas gozando de maiores liberdades (pois podiam circular nas ruas), eram as prostitutas mais famosas que gozavam de maior amor e às quais muitos cidadãos devotam sacrifícios e loucuras.

6 comentários sobre “O papel das mulheres no mundo Greco-romano

  1. TODAS AQUELAS LINDAS BELDADES ENSEJADAS NO “CANTARES” OU “CÂNTICO DOS CÂNTICOS” DO REI SALOMÃO – BÍBLIA SAGRADA, SÃO DENOMINADAS DE “HETAÍRAS”, ISTO É, CORTESÃS ( CONCUBINAS TAL A QUE MOROU-SE MARITALMENTE COM SANTO AGOSTINHO POR 15 ANOS … ) QUE ESTAVAM A SERVIÇO DAQUELE “ENIGMÁTICO SOBERANO” QUE AS USARAM COMO FORMA DE TECITURA DE UM DOS MAIS BELOS POEMAS A QUE SE PODE ACLAMAR E/OU LEVAR-SE A TERMO. PERSONALIZADAS EM FORMA DE PSICOTRÓPICOS E CARNOSAS FRUTICULTURAS, TODAS PERMEIAM-SE JUNTO ÀQUELE INTERTEXTO “SACRO” E “LAICO” PARA SE MOSTRAR QUE O TAL “ESPÍRITO SANTO” É PURAMENTE SEXUAL ( SAMAEL AUM WEAR : COLOMBIANO – “O MATRIMÔNIO PERFEITO” ) COMO DIZIA HERMES TRISMEGISTUS, NA TABUA DAS ESMERALDAS DELE: “O QUE ESTÁ EM CIMA É O MESMO QUE O ABAIXO: KUNDALINÎ { MAGIA BRANCA: CONCEPÇÃO THUMÉTICA : “ESSÊNCIA”… ] E KUASTIAGUADOR [ MAGIA NEGRA: CONCEPÇÃO EPITHUMÉTICA: “SUBSTÂNCIA”… ] ( O APOCALÍPSE REVELADO DE SÃO JOÃO ) :: ELIZZARDO DA CAMINO – MESTRE-MAÇOM ADORMECIDO SUL-RIO-GRANDENSE OU GAÚCHO…

    PARAFRASEANDO-SE O INIGUALÁVEL DRAMATURGO ROSACRUZ INGLÊS, WILLIAM SHAKESPEARE: “HÁ MAIS COISAS ENTRE O CÉU E A TERRA DO QUE POSSA IMAGINAR-SER A NOSSA VÃ FILOSOFIA”.

    FAGL

  2. [11] Agostinho disse:”se banires as prostitutas da sociedade, levarás essa ao caos por causa da luxúria insatisfeita” (SALLES, 1987, p.173) (citação do rodapé do texto).
    Agostinho sabia como funciona a sociedade nos bastidores. Wilhelm Reich, na pós-psicanalise, teria usado essa ideia que relaciona mulheres “da vida” X funcionamento da sociedade. Mas, falta mais. Talvez o caminho seja o da ironia da marca “Daspu”, do jornal “Beijo na rua”, “Davida” (site), dos demais ironias da idealizadora e ex-prostituta Gabriela Leite.
    Na contemporaneidade, nenhum governo conseguiu banir a prostituição. Por incrível que pareça, nem governos totalitários de esquerda (União Soviêtica, China, Cuba, etc), nem os totalitários de direita também não conseguiram (Alemanha nazista, Itália fascista, Chile de Pinochet, etc).
    Ainda, os fundamentalistas – religiosos ou políticos – tem problemas com as mulheres, sobretudo as mulheres independentes de ideias e do uso do seu corpo. Os soviéticos escolheram Valentina Tereskova para ir ao espaço, depois de Gagarim, foi um avanço. Mas, ficou por ai. Leia a entrevista de Raisa Gorbachev, uma intelectual esposa de um governante: grande avanço, mas depois onde estão as mulheres russas? E as chinesas na política? E as cubanas?
    Veja a entrevista de Joumana Haddad, abaixo. Ela observa que ainda hoje as mulheres sentem-se suficientemente gratificada com mimos, e agrados dos machos, que anestesiam sua atuação política. Ela fala da realidade do Líbano, que é islâmico e cristão. Ela é cristã…
    Eu diria, que na nossa época, por um lado, existem as mulheres “copiando o que há de pior dos homens” (cito Domenico de Masi, quando falou na Câmara Federal, no Dia Internacional da Mulher). São mulheres que não só copiam o que há de pior nos homens para fazer política, mas que abandonam – ou reprimem – a feminidade por um masculinismo estereotipado no modo de vestir, falar, e viver o dia-a-dia. Por outro lado, ainda a grande maioria das mulheres infelizmente ainda vive alienada da política, de fazer cultura elaborada, de viver independente etc.

    Enfim, o texto da Maristela é bom para a gente refletir e comparar com as mulheres de nosso tempo. Agradeço-lhe. de Raymundo de Lima.

    “As leis libanesas são medievais e tratam as mulheres como lixo, diz Joumana Haddad”
    http://g1.globo.com/videos/globo-news/milenio/t/programas/v/as-leis-libanesas-sao-medievais-e-tratam-as-mulheres-como-lixo-diz-joumana-haddad/1745174/

  3. Comentários ao Discurso pronunciado pela Presidenta Dilma Roussef na ONU.

    Francisco de Alencar
    Professor
    Brasil
    Comentário: ANONIMAS OU INEXISTENTES. Em outra oportunidade enviarei Comentario mais detalhado sobre o Discurso da Presidenta Dilma na ONU. Entretanto antecipo citando parte do Texto do Discurso e enviando uma breve opinião. Citamos:“Além do meu querido Brasil, sinto-me aqui também representando todas as mulheres do mundo. As mulheres anônimas, aquelas que passam fome e não podem dar de comer aos seus filhos; aquelas que padecem de doenças e não podem se tratar; aquelas que sofrem violência e são discriminadas no emprego, na sociedade e na vida familiar; aquelas cujo trabalho no lar cria as gerações futuras.” Nossa Opinião. Estas Presidenta, necessitam assumir o Papel de direta participação nos destinos da Sociedade Brasileira. Romper o Exílio e a Segregação impostos pela Elites e Senhores do Poder, no Brasil e em outras partes do Mundo. Democracia?! Também, neste particular, as Nações Unidas continuam a Legitimar o Ilegítimo. Assim Consideramos. Fraternalmente. Felicitamos, Francisco de Alencar Professor. Publicado em Carta Maior. 2011-09-21

    ELAS AS DO NOVO SÉCULO PEDEM A PALAVRA “AQUI ESTAMOS SENHORES! NÃO AO APARTHEID E A OPRESSÃO DOS VELHOS TEMPOS E MANUSCRITOS DA SANTA INQUISIÇÃO”
    8 DE MARÇO DE 2011
    DIA INTERNACIONAL DA MULHER
    AS MULHERES DE ALTANEIRA
    COMO VIVEM, COMO LUTAM E SOBREVIVEM
    Extrato Parcial do Texto “As Condições de Vida e Trabalho da Mulher em Altaneira”, Altaneira, Brasil, 2000.
    Francisco de Alencar Antropólogo
    A Comunidade Local em Altaneira, Brasil
    No que se refere ao que é “próprio ou particular” em Altaneira, e que se expressa nas comunidades locais que visitamos devemos considerar sumariamente sobre o seguinte:
    A presença, em cada comunidade, de um número determinado de famílias relacionadas por vínculos de parentesco e de relações solidárias o que, acreditamos, possibilita níveis de comunicação e cooperação sem os quais a árdua realidade do sobreviver com escassos recursos seria muito mais difícil, ou mesmo, impossível.
    No que se refere ao anterior e, em cada unidade familiar, observa-se a presença de valores culturais que afirmam “o papel de cada qual”, em uma relação clara de configuração de status onde ao homem ou ao chefe de família são atribuídas as decisões principais constituindo-se assim o centro real do exercício do poder. Na maioria dos casos, à mulher, como em quase todas as comunidades que estivemos presentes, são destinadas as tarefas tradicionalmente conhecidas e atribuídas às “donas de casa”, “mães de família”, “responsáveis pela casa e pelos filhos”, etc. o que determina sua marginalização das esferas de decisões mais importantes; também neste caso, o “trabalho doméstico” não remunerado, não é visto ou compreendido como “atividade de trabalho” sendo considerado por muitos como “obrigação da mulher”, “que deve fazer o que é para ela fazer…”, “trabalho que não é do homem que para trabalhar não pode ficar em casa”. Na divisão dos “que fazeres diários” a mulher assume a direção da casa e, de acordo com as reduzidas posses que dispõe, administra o conjunto de medidas necessárias a cobrir as necessidades mínimas de sua família. A alimentação é constituída por produtos que, na maioria dos casos, são provenientes das “roças”, dos pequenos “canteiros”, dos “chiqueiros” e “galinheiros” onde a criação de animais e aves domésticas proporciona a carne, os ovos e o leite destinado especialmente para as crianças de primeira idade. A casa, “a cozinha e dentro de casa” é o cenário principal da atividade da mulher que tem grande parte de sua existência circunscrita ao mesmo. Aí passa a maior parte dos seus dias e aí também afirma sua “qualidade de boa dona de casa”, “responsável como mãe e mulher”, “de mulher séria e solidária com as demais pessoas”, sua “arte”, “sua confiança e absoluta Fé em Deus” e realiza parte do seu ideal de bem servir ao “seu homem”, aos filhos e a família. No mais, é “u lavá i ingomá as rôpa”, “arrumá a casa i barrê us terrêru”, “u i i vi dus caminhu dágua”, “aguantá us canssáçu”, “nun falá das tristeza y dus sufrimentu…”, cuidar bem das crianças para que não adoeçam, dos maiores para que estudem e tenham no futuro uma vida melhor e menos sofrida, “rezá i pidi a Deus” para que tudo de bom aconteça, para os seus e para os demais, enfim, “o esquecer-se de si mesma sem se importar com o tempo que, dia-a-dia, vai
    passando”. Em Altaneira, muitas das mulheres mais jovens buscam na sede do Município, nas cidades mais próximas ou na Capital, oportunidades melhores para conseguir trabalho como empregadas domésticas ou no comércio, o que lhes possibilitar um melhor ingresso, o estudar nas escolas públicas noturnas, uma participação maior e uma qualidade de vida melhor que aquela que anteriormente nos referimos. Altaneira, 2010 10 25. Brasil
    “Não olheis para eu ser morena, porque o sol resplandeceu sobre mim. Os filhos de minha mãe se indignaram contra mim e me puseram por guarda de vinhas, a vinha que me pertence não guardei”.
    Biblia Sagrada, Cantares de Salomão, 1. 6
    ___________________

  4. Excelente texto. Felizmente as mulheres atualmente avançaram em grande parte dessas atrocidades as quais a socidade (homens?) exerciam sobre a liberdade das meninas, moças e mulheres. Contudo, é de se destacar que a maioria destes direitos só veio recentemente, boa parte deles no último século. E tomara que neste século XXI nenhuma atrocidade ocorra com o gênero feminino e que a igualdade de condições venha para construirmos uma sociedade mais justa.

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