Os Institutos Federais sob ataque

JOSIMAR PRIORI*

Você sabe o que é um Instituto Federal (IF)? Você conhece alguém que já estudou nesta instituição? É provável que a resposta para a maioria dos leitores seja não. Aqueles que responderem sim, por sua vez, certamente podem descrever as inúmeras virtudes desta rede de educação. Embora esteja capilarizado em cidades do interior de todos os estados e do distrito federal, infelizmente os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia são ainda pouco reconhecidos. Mesmo profissionais que atuam na área da educação costumam saber pouco sobre esse projeto educacional. É uma pena, pois rapidamente reconhecê-lo-iam como “escola modelo”. De fato, os IFs apresentam qualidade surpreendente e os resultados dos estudantes são comparáveis aos dos países com os melhores resultados educacionais do mundo, como Coreia do Sul e Finlândia.

Os IFs foram criados em 2008 a partir da incorporação das escolas técnicas federais já existentes e da criação de um número significativo de novas instituições, sendo uma delas o Instituto Federal do Paraná (IFPR). Seus principais objetivos são ofertar educação nas áreas profissional e tecnológica em nível de excelência tendo como horizonte a formação integral, a qualificação cidadã e a ênfase no desenvolvimento socioeconômico local, regional e nacional. Os IFs podem ofertar todos os níveis e modalidades educacionais, no entanto o foco principal é o ensino médio, que é sempre integrado a um curso técnico.

A estrutura dessas escolas é impressionante. No campus que eu atuo, em Paranavaí, por exemplo, possuímos ar-condicionado, data show, quadro de vidro, lousa digital e cadeiras almofadadas em todas as salas de aula. Também dispomos de inúmeros laboratórios, onde os estudantes, orientados por seus professores, mestres ou doutores, fazem pesquisas em diferentes áreas do conhecimento. Temos também inúmeros projetos nas áreas esportiva e artística. Os profissionais que atuam nesta instituição são valorizados financeira e moralmente. São muito capacitados e apaixonados pelo trabalho que realizam.

Os princípios organizacionais que regem os institutos federais estão ancorados no tripé ensino, pesquisa e extensão. Isto é, além das aulas, estas instituições desenvolvem pesquisas científicas e também buscam atender, por meio da extensão, a comunidade externa. É graças a essa estrutura e ao aporte financeiro compatível que é possível desenvolver tão grande número de projetos e, inclusive, ofertar bolsas a parte dos estudantes, os quais podem participar de tais atividades desde o seu ingresso na instituição e, eventualmente, serem contemplados com um valioso suporte financeiro.

O leitor deve estar imaginando que esta rede seja acessível apenas para uma minoria bem aquinhoada. No entanto, a verdade é que o público prioritário dos IFs são os filhos das classes baixas. A regra geral define que cada instituto federal deve reservar 50% de suas vagas para alunos oriundos de escolas públicas, negros ou deficientes. O IFPR foi além e definiu que 80% de suas vagas sejam destinadas para os que mais precisam. Assim, tais escolas realizam uma profunda revolução na vida do filho da trabalhadora doméstica, do porteiro, do trabalhador do corte de cana.

No entanto, embora ainda jovem, o projeto dos IFs se encontra sob severa ameaça. Além dos ataques sofridos pelos educadores de forma geral, há ações específicas de desmonte desta rede. As restrições orçamentárias se aprofundaram nos últimos anos, de modo que as verbas recebidas atualmente estão num nível muito abaixo das necessidades. Além disso, inúmeras mudanças organizacionais têm sido impostas, sendo a mais danosa a portaria 983-2019/MEC, que obriga que os professores deem um número maior de aulas por semana do que realizavam antes. Esta medida, aparentemente inofensiva, tende a comprometer seriamente as atividades de pesquisa e extensão, o que, conjugado com a escassez orçamentária e o esvaziamento dos currículos promovido pela reforma do ensino médio, levará a uma inevitável perda de qualidade e destruição daquilo que é essencial para que os IFs sejam o que são.

Ao leitor, faço o convite para que busque conhecer tais instituições e, mais que isso, se engaje em sua defesa. Os institutos federais, em vez de serem encolhidos e sucateados, como ora tem acontecido, precisam ser expandidos e adotados como modelo para toda a educação brasileira. Executado com orçamento adequado, a ousada concepção político-pedagógica dos IFs provam que a educação brasileira pode ser um sucesso e que nossos jovens podem ter sua dignidade, seus sonhos e sua dignidade restabelecida.  Defender os Institutos Federais é defender o Brasil que dá certo e que pode ser muito mais do que é.


* JOSIMAR PRIORI é Cientista Social, Doutor em Sociologia, professor do Instituto Federal do Paraná (IFPR) e autor de A luta faz a lei (Maringá, Eduem, 2017).

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