Das comunicações vigiadas à reconstrução da democracia

praxedesWALTER PRAXEDES*

Sempre pensamos que a globalização é a época das comunicações instantâneas entre todas as regiões do planeta. Agora precisamos acrescentar que essa instantaneidade é também vigiada via satélite.

Houve um tempo, não muito distante, em que a maior acusação que poderia ser feita contra os então chamados países comunistas da hoje já extinta União Soviética e do leste europeu, era a da falta de liberdade dos seus habitantes. Seus estados eram acusados de exercer uma vigilância policial sobre a vida das pessoas, violava suas correspondências, gravava suas conversas ao telefone e seguia os seus passos para onde quer que fossem. Os nomes da KGB soviética (sigla russa para Comitê de Segurança do Estado), e da temida Stasi, polícia política e secreta da Alemanha oriental, representavam as mais invasivas, opressivas e odiosas agências de espionagem da vida cotidiana dos indivíduos.

Mas os Estados Unidos venceram a Guerra Fria, a União Soviética foi extinta, foi destruído o Muro de Berlin. O “comunismo” teria mesmo que fracassar, pois não respeitava os direitos humanos à liberdade e à privacidade. Seria impossível imaginarmos que os seres humanos se submeteriam indefinidamente à opressão de ter as suas correspondências lidas e viver sendo monitorados por anônimos agentes dos serviços secretos.

Então veio a difusão em larga escala das tecnologias informacionais e de comunicação. Seduzidos pela praticidade e pelo culto da tecnologia, bilhões de seres humanos espalhados pelo planeta ingressaram em uma rede de informação e comunicação com seus computadores pessoais e telefones celulares dotados de acesso à Internet, redes sociais, correio eletrônico. E assim se submeteram espontaneamente à mais poderosa e eficiente rede de espionagem, franqueando aos estados e seus serviços secretos todas as informações que achávamos tão opressivo e odioso que os países da Cortina de Ferro roubassem dos seus habitantes.

Da mesma forma como acabou a ilusão no socialismo burocrático e policial da antiga União soviética, quem sabe agora ocorra o fim da ilusão na democracia ao estilo norte-americano, baseada em espionagem, terrorismo de estado, perseguição, tortura, guerra, massacre de populações civis como ocorreu no Iraque e no Afeganistão, patrocínio a golpes de estado no mundo todo e muito cinismo, afinal, os EUA ainda se intitulam os defensores da liberdade no mundo.

Já se falou que a democracia é uma forma de convivência social e política que deve ser reconstruída a cada geração. Chegou o momento e a nossa vez de a reconstruirmos sem monitoramento das comunicações, sem tortura e sem pobreza.


* WALTER PRAXEDES é Sociólogo, Doutor em Educação pela USP, professor do Departamento de Ciências Sociais da UEM.

 

4 comentários sobre “Das comunicações vigiadas à reconstrução da democracia

  1. Cada cidadã e cada ciidadão tem o direito e o dever de lutar e defender a reconstrução da democracia em seus país, sem interferências belicosas, sem guerras, sem lutas sanguinárias, onde os direitos humanos são pisoteados e desrespeitados.Que possamos transmitir a nossos filhos e netos a ideologia do respeito e da não violência. Abraço fraterno.

  2. Prof.Walter Praxedes, suas bem colocadas palavras, seu texto sincero e direto, respondem a uma pergunta que sempre martelou no meu cérebro: Que espécie de defesa da Democracia é esta ? Invade países, assassina o seu povo, desrespeita seus hábitos sociais, humanos e religiosos, tortura, oprime, usa mercenários criminosos, fomenta ditaduras. Este país que se julga o grande líder mundial, se faz de juiz e algoz.Não admite um julgamento justo a ninguém.Também é o maior fabricante de armas do mundo e seguramente, o maior consumidor de petróleo.
    Uma democracia sem tortura e sem pobreza, é o sonho ideal mais lindo que a humanidade pode ter.
    Obrigada Professor, por suas belas e esclarecedoras palavras.

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